No vasto mundo da psicologia, uma figura se destaca por suas contribuições inovadoras e influentes: Carl Gustav Jung. Uma de suas teorias mais interessantes é a dos arquétipos, formas universais simbólicas que estão presentes no inconsciente coletivo. Mas o que isso tem a ver com viagens? Eu já te respondo: são os ARQUÉTIPOS DE VIAJANTES!
O ato de viajar deve ser visto como uma conquista, o ápice da realização do que há de melhor em nossa existência: a conexão entre o que somos e o que temos ao nosso redor. Seja aquela escapadinha para a praia mais próxima, ou a ida àquele destino dos sonhos, toda viagem deveria ser visto como “coisa séria”, como algo primordial. Neste post, vamos explorar essa fascinante teoria dos arquétipos e como ela se aplica ao mundo dos viajantes.
E aí, qual será o(s) seu(s) arquétipo(s)?
Quem foi Carl Gustav Jung: o “padrinho” dos arquétipos
Carl Gustav Jung foi um dos maiores psicólogos e psiquiatras do século XX, conhecido por ser o fundador da psicologia analítica, também conhecida como “psicologia junguiana”. Nascido na Suíça em 1875, Jung fez contribuições para a compreensão da psicologia humana que serviram de base para muitas teorias que surgiram a partir dela. Ele propôs e desenvolveu conceitos como o inconsciente coletivo, arquétipos e sincronicidade. Além disso, Jung é famoso por sua teoria da personalidade e pela diferenciação entre os tipos psicológicos introvertidos e extrovertidos.
A teoria dos arquétipos de Jung é um dos aspectos mais conhecidos e influentes de seu trabalho, além da sua significativa contribuição para a compreensão dos sonhos, da religião e da espiritualidade. Jung continuou trabalhando e escrevendo até sua morte em 1961. Seu trabalho deixou um legado duradouro e continua a ser uma influência significativa na psicologia e em outras disciplinas até hoje.
O que são arquétipos?
Arquétipo é um conceito da psicologia utilizado para representar padrões de comportamento associados a um personagem ou papel social. Para exemplificar, as figuras da mãe, do sábio e do herói são exemplos de arquétipos. Esses “personagens” têm características percebidas de maneira semelhante por todos os seres humanos, não importa de onde eles sejam e no que eles acreditem.
Numa breve contextualização, as primeiras elaborações sobre os arquétipos ocorreram muitos séculos atrás, através do filósofo grego Platão (428 a.C. – 347 a.C.). Depois disso, o conceito foi trabalhado por Plotino (205 d.C – 270 d.C), filósofo neoplatônico, e há ainda registros de que Santo Agostinho (354 d.C – 430 d.C), um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo, também passou a utilizar o termo.
Acho que deu pra perceber que estamos falando de um conceito que já existe na humanidade há bastante tempo, né?
A aplicação dos arquétipos no contexto psicológico, como vemos hoje, só aconteceu depois de Jung publicar a sua obra “A natureza da psique” na década de 1940. Ele identificou 12 arquétipos principais, cada um com suas próprias características, forças e fraquezas.
Segundo Jung, os arquétipos são uma herança psicológica, ou seja, resultam das experiências de milhares de gerações de seres humanos no enfrentamento das situações cotidianas. As imagens dos arquétipos são encontradas em mitos, lendas, na literatura, nos filmes e até mesmo nos nossos sonhos.
O arquétipo da “mãe amorosa e protetora”, por exemplo, não foi inventado e instituído por uma pessoa. Ele é de domínio público, pois as experiências envolvendo o conceito de maternidade, ao longo de toda a história da humanidade, levaram ao surgimento desse arquétipo. Muitas mães ao longo da história demonstraram amor e afeto, levando à construção dessa imagem simultaneamente a várias pessoas em diferentes lugares e momentos da história.
ATENÇÃO: É claro que nem toda mãe é amorosa e protetora (e é claro que esse papel não é exclusivo das pessoas do sexo feminino), o que evidencia outra característica importante dos arquétipos: eles não pretendem representar todas as características da humanidade (o que, aliás, seria IMPOSSÍVEL). Eles apenas TRADUZEM uma generalização criada pelo inconsciente coletivo da humanidade.
ATENÇÃO 2: Outra armadilha muito comum é aquela de encontrar o “perfil perfeito” para certas profissões ou ocupações. É preciso desmistificar que, para ser bem-sucedido, todos precisam “vestir a camisa” do arquétipo do Tolo (o cara engraçado, divertido) ou do Herói (aquele encanta com o timbre de voz), ao mesmo tempo que diminuem a contribuição da “Pessoa Comum”: aquele que encontra a sua força na sabedoria pessoal. Como prova dessa balela, tanto o médico Drauzio Varella quanto o filósofo Mário Sérgio Cortella, ambos figuras muito reconhecidas e respeitadas, são citados como “caras comuns”, porque os dois têm o dom de traduzir o seu conhecimento e simplificar o assunto ao falarem de suas áreas de atuação.
Os 12 arquétipos de Jung
Um indivíduo manifesta diversos arquétipos em sua personalidade, ainda que ele possa ter um mais predominante. Os psicólogos costumam usar esses padrões para estudar as personalidades e desenvolver as potencialidades dos indivíduos. Cada arquétipo tem características, forças e fraquezas únicas, e representa uma forma diferente de ser e de lidar com o mundo. Eles são reflexos de diferentes aspectos da personalidade humana e podem ser vistos em todas as culturas e em todas as épocas.
Sábio
Também chamado de estudioso, especialista, pensador, mentor e professor, o Sábio é analítico, estudioso e desconfiado. Ele quer descobrir os mistérios e entender como as coisas funcionam, com o objetivo de repassar o seu conhecimento e tornar o mundo um lugar melhor.
Rebelde
Chamado de revolucionário, desajustado ou selvagem, ele rejeita padrões. Conhece as regras para poder desobedecê-las e vive de acordo com o que acredita, mesmo que seja totalmente contrário ao que a maioria segue.
Mago (ou Mágico)
Conhecido como mágico, inventor, visionário e curandeiro, o Mago quer compreender o mundo, unir a razão e a espiritualidade, encontrar soluções e ajudar os outros enquanto expande a sua consciência.
Amante
Apesar do nome, ele não valoriza apenas o amor romântico, mas também o amor entre amigos e familiares. Gosta de conexões profundas.
Cuidador
Empático, altruísta e generoso, o cuidador é o amigo ou familiar que todo mundo gostaria de ter. Gosta de cuidar dos outros e faz o possível para que todos estejam bem.
Pessoa comum
Reconhecido como o realista, o trabalhador e o cidadão de bem, esse arquétipo tem como foco a simplicidade e a sensação de conforto que um ambiente acolhedor proporciona.
Explorador
Também chamado de andarilho, aventureiro e individualista, o Explorador é corajoso e determinado, e não hesita em experimentar diferentes caminhos até encontrar aquele que faça sentido para si.
Criador
Artista, inventor, inovador, músico, escritor ou sonhador, ele tem como lema de vida que tudo aquilo que pode imaginar, é capaz de realizar. Amam arte e cultura.
Herói
Personificando a figura do salvador, do vencedor, do guerreiro, o Herói é resiliente e trabalha duro para (tentar) fazer a diferença no mundo. Luta para proteger os seus e não teme os perigos.
Tolo (ou Bobo)
Também é chamado de brincalhão e comediante, ele deseja viver o momento ao máximo. O Tolo quer viver com prazer e levar essa alegria a quem estiver à sua volta.
Inocente
Chamado de ingênuo, utópico, romântico e sonhador, o Inocente acredita que é possível construir um mundo melhor para todos, em que todos possam ser quem desejarem. Sabe enxergar os aspectos positivos em todas as situações.
Governante
Também conhecido como chefe, líder, aristocrata, rei/rainha, político, modelo, gerente ou administrador, o Governante é alguém que exerce poder e que gosta de ter controle sobre as coisas em qualquer área. Gosta do bom e do melhor.
Arquétipos x Viagens
No contexto de viagens, essa compreensão sobre arquétipos pode ser particularmente útil. Ao identificar os arquétipos de viajantes, podemos entender melhor o que os motiva a viajar, o que buscam em suas viagens, e como preferem viajar. Isso pode nos ajudar a planejar viagens mais satisfatórias e enriquecedoras, tanto para nós mesmos quanto para os outros.
ATENÇÃO: Esses arquétipos não são rígidos, mas sim flexíveis e permeáveis. Uma pessoa vai se identificar com vários arquétipos em diferentes aspectos, e isso muda (bastante) ao longo da sua vida. São como FOTOS daquele MOMENTO.
Assim como Jung, a ideia de criar esses arquétipos não significa que estamos LIMITANDO ou apenas ROTULANDO um viajante com descrições simplistas. Na verdade, é exatamente o oposto. Ao mostrar para o viajante que ele tem dentro de si os componentes e as características não de um, mas de vários arquétipos (ou até de todos), nós estamos fornecendo uma ferramenta valiosa para melhorar o processo de planejamento de suas viagens.
Os 12 arquétipos de viajantes
A partir da teoria de arquétipos de Jung, desenvolvemos 12 arquétipos de viajantes, mas preste atenção: esses arquétipos NÃO são rígidos, mas sim flexíveis, permeáveis e FLUIDOS. Eles servem como um GUIA para entender melhor os diferentes perfis de viajantes.
DICA: Saber o seu espectro de arquétipos (sim: um ESPECTRO, nada de resposta ÚNICA) fica mais fácil planejar seus futuros destinos de viagens e encontrar aquilo que vai REALMENTE te fazer feliz!
Explorador Cult (o Sábio)
O Explorador Cult é aquele que busca conhecimento e experiências culturais em suas viagens. Ele se interessa por história, arte, música, culinária e tradições locais. Sua jornada é guiada pela curiosidade intelectual e pelo desejo de compreender diferentes culturas e modos de vida. Ele é reconhecido como uma pessoa estudiosa, especialista, pensadora e mentora. Analítico e desconfiado, ele quer descobrir os mistérios e entender como as coisas funcionam, com o objetivo de tornar o mundo um lugar melhor.
Nômade Digital (o Rebelde)
O Nômade Digital é aquele que desafia as convenções sociais e as fronteiras geográficas. Ele trabalha remotamente e aproveita a liberdade proporcionada pela tecnologia para viajar pelo mundo, muitas vezes explorando lugares pouco convencionais e buscando experiências autênticas fora do circuito turístico tradicional. Por natureza, é uma pessoa avessa às regras, um indivíduo que vive de acordo com o que acredita, mesmo que seja totalmente contrário ao que a maioria segue.
Viajante Zen (o Mago)
O Viajante Zen é aquele que busca conexão espiritual e harmonia com a natureza em suas viagens. Ele valoriza a simplicidade, a liberdade e a autenticidade, optando por destinos eco-friendly, retiros espirituais e comunidades alternativas. Busca unir conhecimentos ocultos a religiões, ciência e tecnologia, a fim de compreender o universo. Sua jornada é guiada pelo desejo de encontrar paz interior e equilíbrio com o meio ambiente, encontrando soluções e ajudando os outros e expandir a sua consciência.
Viajante Apaixonado (o Amante)
O Viajante Apaixonado é aquele que dá grande importância para as relações em suas viagens. Ele valoriza a beleza, o romance e a intimidade, optando por destinos charmosos, cenários naturais deslumbrantes e atividades que promovam conexões profundas com outras pessoas e culturas. Apesar do nome, ele não valoriza apenas o amor romântico, mas também o amor entre amigos e familiares. Gosta de conexões profundas.
Eco Explorador (o Cuidador)
O Eco Explorador é aquele que se preocupa com o bem-estar do planeta e das comunidades locais em suas viagens. Ele busca práticas sustentáveis, respeito à natureza e responsabilidade social em suas escolhas de viagem, apoiando iniciativas ecológicas e contribuindo para um turismo mais ético e consciente. Empático, altruísta e generoso, o cuidador é o amigo ou familiar que todo mundo gostaria de ter.
Turista Relax (a Pessoa Comum)
O Turista Relax é aquele que busca tranquilidade, conforto e simplicidade em suas viagens. Ele prefere destinos serenos, atividades de lazer e momentos de descanso, evitando agendas lotadas e experiências estressantes. Sua jornada é marcada pela busca de paz interior e momentos de relaxamento. Amigável, realista e humilde, ele só quer ser aceito pela sociedade ou por grupos específicos, e não se sente confortável em posições de destaque.
Caçador de Emoções (o Explorador)
O Caçador de Emoções é aquele que busca aventura, desafio e adrenalina em suas viagens. Busca por experiências novas e foge das situações rotineiras. Ele se sente vivo quando está explorando lugares remotos, praticando esportes radicais e enfrentando situações fora da zona de conforto. Sua jornada é marcada pela coragem, determinação e espírito de aventura. Ele não hesita em experimentar diferentes caminhos, até encontrar aquele que faça sentido para si.
Sommelier de Destinos (o Criador)
O Sommelier de Destinos é aquele que busca inspiração, criatividade e expressão cultural em suas viagens. Ele se interessa por arte, design, gastronomia e manifestações culturais únicas, valorizando a originalidade e a autenticidade de cada destino. As pessoas representadas por ele têm uma tendência ao tédio e ao perfeccionismo. Por isso, estão sempre experimentando atividades novas e exercendo a sua criatividade. Amam arte e cultura.
Desbravador de Metrópoles (o Herói)
O Desbravador de Metrópoles é aquele que busca desafios, oportunidades e novas perspectivas em ambientes urbanos em suas viagens. Ele se encanta com a energia das cidades, a diversidade cultural e as possibilidades de conexão e crescimento pessoal. Sua jornada é marcada pela coragem, determinação e espírito de conquista. A sua maior satisfação é mostrar o seu valor aos outros por meio de atitudes ousadas que o destaquem e o permitam fazer a diferença no mundo.
Mochileiro Sem Roteiro (o Tolo)
O perfil “Mochileiro Sem Roteiro” é aquele que busca diversão, espontaneidade e leveza em suas viagens. Ele está aberto a novas experiências, surpresas e aventuras, sem se preocupar muito com planos ou expectativas rígidas. O seu maior desejo é viver cada momento com prazer, sempre considerando que cada instante é único. Sua jornada é marcada pela descontração, bom humor e disposição para aproveitar o momento presente, sem se preocupar com o que as outras pessoas poderão pensar.
Aventureiro em Família (o Inocente)
O Aventureiro em Família é aquele que busca experiências seguras, enriquecedoras e reconfortantes em suas viagens. Eles buscam destinos e atividades que ofereçam diversão e entretenimento para pessoas de todas as idades, valorizando momentos de convívio, compartilhando momentos especiais com entes queridos e criando memórias afetivas que fortalecem os laços familiares. Sua jornada é guiada pelo desejo de proporcionar bem-estar e felicidade para si e para sua família. É o “par perfeito” do arquétipo do Desbravador de Metrópoles e o extremo oposto do arquétipo do “Nômade Digital”. É simples, leal, honesto e obediente às regras. Acima de qualquer coisa, deseja a felicidade e acredita que é possível construir um mundo melhor para todos, em que todos possam ser quem desejarem.
Primeira Classe (o Governante)
O Primeira Classe é aquele que busca luxo, conforto e exclusividade em suas viagens. Ele valoriza serviços de alta qualidade, infraestrutura impecável e experiências personalizadas, optando por destinos e acomodações que ofereçam o máximo de conforto e requinte. Também conhecido como chefe, líder, aristocrata, rei/rainha, político, modelo, gerente ou administrador, o Primeira Classe é comunicativo, responsável e organizado, apresentando um espírito de liderança nato. Sua jornada é marcada pelo poder de escolha e pelo desejo de desfrutar o melhor que o mundo tem a oferecer.
Bom, acho que já deu pra ter uma ideia geral sobre as diferenças entre os 12 arquétipos de viajantes e as suas associações com os mundialmente reconhecidos arquétipos de Jung. Nos próximos posts, vamos explorar cada um desses arquétipos de viajantes em detalhes. Vamos mergulhar nas características específicas de cada um, entender suas motivações e descobrir como eles se refletem em diferentes estilos de viagem.
Quem sabe, depois que você descobrir quais arquétipos de viajantes mais te representam, vai ficar mais fácil e intuitivo decidir suas próximas viagens?
E aí? Se identificou com quais deles? Me conta nos comentários!