A floresta que ganhou o coração do pai do Rei Sol.
O Parque de Versalhes refere-se ao extenso e magnífico espaço verde situado nos arredores da propriedade de Versalhes, que inclui não só o famoso palácio, mas seus jardins. Isso mesmo, o Parque é uma coisa, os Jardins são outra.
Neste post, vamos entender melhor essa diferença entre parque e jardins, além de explorar as atrações imperdíveis que ficam “escondidas” no coração dessa floresta “real”!
Informações práticas de Versalhes
Eu já detalhei tim-tim por tim-tim sobre as informações práticas de Versalhes (como chegar, tickets, horários, mapas, alertas e dicas) no post “Versalhes: o que fazer por lá“. Ou, se você caiu aqui de paraquedas enquanto procurava informações sobre o Palácio de Versalhes, você também pode conferir meu post “Palácio de Versalhes: tudo o que você precisa saber“. Mas se você também tem interesse nor jardins (que não são o parque que vamos falar aqui), eu também tenho o post “Jardins de Versalhes: tudo o que você precisa saber“.
A história por trás da Floresta de Versalhes
A história da propriedade de Versalhes remonta ao início do século XVII, quando o jovem Delfim (futuro rei Luís XIII) conheceu a região em meio à prática de caçadas. Ele se encantou pela enorme floresta que ocupava essa área e nunca se esqueceu dela. Anos mais tarde, após adquirir todas aquelas terras, ele solicitou a construção de uma casa de caça na, então, Floresta de Versailles. A obra estendeu-se até 1634 e deu origem ao que hoje é o Palácio de Versalhes. A floresta foi mantida no seu entorno, como se estivesse guardando o palácio.
Dando sequência à paixão de seu pai pela região, o rei Luís XIV, o Rei Sol, cuidou seriamente de ampliar a estrutura ainda simples do Palácio de Versalhes. Aqui, ele instalaria a Corte e o governo no ano de 1682. Em 1661, começaram as obras para a criação dos Jardins de Versalhes, que só terminariam quarenta anos depois.
Com a morte de Luís XIV, a corte deixou Versalhes rumo a Paris. A propriedade passou por um período de abandono e, posteriormente, foi reformada e ampliada pelo sucessor Luís XV, que investiu em Versalhes até a sua morte, em 1774.
O palácio do Grand Trianon foi construído por ordem do Rei Luís XIV no final do século XVII no meio da floresta de Versalhes. O arquiteto Jules Hardouin-Mansart projetou o edifício, que foi concluído em 1687. Luís XIV queria um lugar longe da corte principal, ainda que a uma distância pequena, onde pudesse escapar das formalidades e das pressões da vida no Palácio de Versalhes.
Ele usou o Grand Trianon para encontros mais privados, longe da pompa e circunstância da corte principal, e até para manter as suas favoritas (entenda: amantes, como a Madame de Montespan). É, talvez, o conjunto arquitetônico mais requintado encontrado na propriedade real de Versalhes. Esse palácio “discreto” também foi usado por outros monarcas franceses ao longo dos anos.
Contudo, em 1758, o então rei Luís XV decidiu construir um novo palácio no meio dos seus jardins, no qual já trabalhava há cerca de dez anos. Ele encarregou Ange-Jacques Gabriel, que ocupava o posto de primeiro arquiteto do rei, de construir um pavilhão grande o suficiente para ele e alguns de sua comitiva morarem. Com o Petit Trianon, Gabriel produziu um projeto para o movimento neoclássico: um exemplo perfeito do ‘ estilo grego” que estava estourando na Europa naquela época.
Concluído em 1768, o novo palácio na propriedade foi nomeado Petit Trianon para distingui-lo do “primogênito”, conhecido como Grande Trianon. Foi aqui, em abril de 1774, que Luís XV sentiu os primeiros sintomas da varíola, que o levaria à morte poucos dias depois e iniciaria o reinado de Luís XVI e Maria Antonieta.
O novo rei Luís XVI deu o Petit Trianon de presente à sua esposa, que rapidamente o tornou seu e ordenou uma ampla reformulação das áreas externas. Os jardins botânicos de Luís XV foram logo substituídos por um jardim anglo-oriental, mais de acordo com a moda da época e que Maria Antonieta constantemente acrescentava e embelezava.
As principais áreas do Parque
Basta olhar um simples mapa da propriedade para que você compreenda melhor a dimensão que o Parque tem em relação ao restante das atrações daqui. O mapa abaixo destaca, em marrom, a área do parque que engloba também o “estados de Trianon”, onde estão os dois palácios e a Aldeia de Maria Antonieta.
Entradas para o Parque de Versalhes
A partir do palácio: é necessário atravessar os Jardins para chegar ao Parque, que fica na outra extremidade. Indicados com os números 3 e 4, respectivamente, o Portão do Menagerie e Pequeno Portão de Veneza separam o Jardim e o Parque.
Direto da cidade de Versalhes:
– Porta da Rainha (Grille de la Reine): Localizada no Boulevard de la Reine, este portão leva aos Trianons, o Pequeno Trianon e o Grand Trianon, dando acesso ao parque a pé ou de carro.
– Porta de Santo Antônio: Localizada na D186 que chega de le Chesnay, é reservado para pedestres e ciclistas e, somente nos finais de semana, para os carros.
– Porta dos Marinheiros: essa porta fica na rota de Saint-Cyr (pela rodovia D10), e é reservada para pedestres e ciclistas.
ATENÇÃO: Existem pelo menos outros dois portões que dão acesso ao Parque, o Portão da Estrela Real e o Portão Choisy. Entretanto, eles podem ficar fechados eventualmente, principalmente por questões de segurança.
O Parque
Como eu já expliquei, além dos famosos Jardins fica o Parque de Versalhes, que dá continuidade à perfeição deles graças à criação de dois grandes elementos aquáticos: o Grande Canal e o Lago da Guarda Suíça.
Ao todo, o Parque tem uma área aproximada de 800 hectares, atravessada por caminhos retilíneos que delimitam zonas arborizadas e campos agrícolas, e está rodeado por um muro com portões “vazados”. Embora alguns terrenos tenham sido perdidos durante a Revolução e o século XIX, o perímetro do Parque manteve o seu contorno original e continua a rodear a propriedade de Versalhes com a riqueza verde que sempre conheceu.
Propriedade de Trianon
As principais atrações da propriedade do Trianon são o palácio Grand Trianon, o palácio Petit Trianon e a Aldeia da Rainha.
DETALHE: A visita levará pelo menos 3 horas, caso você realmente queira ver tudo com cuidado.
Conhecendo o Grand Trianon
O Grand Trianon, anteriormente conhecido como Trianon de Mármore, foi construído sob o reinado de Luís XIV utilizando mármore rosa, sendo concluído apenas em 1687. É composto por um edifício térreo com uma galeria central com colunatas que se abre para o pátio central de um lado e os jardins no outro.
“Um pequeno palácio de mármore rosa e pórfiro, com jardins maravilhosos”, escreveu o arquiteto Jules Hardouin-Mansart, que seguiu à risca as instruções do Rei para contruir essa obra prima.
Originalmente pensado como um retiro familiar de Luís XIV, o Grand Trianon foi mais tarde usado pela rainha Marie Leszczynska, esposa de Luís XV, nos meses de verão. Seu pai, o rei Estanislau I da Polônia, ficou aqui quando visitou Versalhes.
DETALHES: Curiosamente, a rainha Maria Antonieta (esposa de Luís XVI) sempre preferiu o Petit Trianon, que foi dado a ela como presente pelo marido. Já Napoleão encomendou um programa de trabalhos de restauração para esse palácio (que foi destruído durante a Revolução Francesa) e esteve aqui várias vezes.
No Grande Trianon, os aposentos reais da ala esquerda estão ligados aos aposentos reais da ala direita pelo Peristilo. Esse layout foi inspirado no Palácio de Versalhes, onde os Apartamentos de Estado da Rainha, ao sul, estão conectados aos Apartamentos de Estado do Rei, ao norte, pelo Salão dos Espelhos.
Alguns destaques da visita ao Grand Trianon são, sem dúvida:
– Aposentos da Imperatriz: Anteriormente o quarto de Luís XIV, o antigo quarto real foi dividido em dois para formar um quarto menor e uma sala de estar (ou antecâmara) para a Imperatriz Marie-Louise, que selecionou os móveis que hoje podemos ver aqui; a única exceção é a cama, que ficava no quarto de Napoleão, no Palácio das Tulherias. Foi também o leito de morte de Luís XVIII, irmão de Luís XVI, em 1824.
– Sala dos Espelhos (sim, aqui também tem): Com a sua esplêndida vista sobre o Grande Canal e as suas paredes espelhadas, este é o quarto mais requintado da Ala Sul. Foi o último quarto do conjunto de apartamentos que Luís XIV ocupou nesta ala do palácio de 1691 a 1703, e serviu como câmara do conselho.
– Antiga Capela: Nos primeiros dias do Trianon, esta sala era uma capela. Foi convertida em antecâmara em 1691, quando Luís XIV fixou residência nesta ala do palácio, mas manteve a sua finalidade original: a porta da parede posterior abre-se para revelar uma alcova contendo um altar. Terminada a missa, a porta poderia ser fechada e a sala usada como antes.
– Peristilo: Esta grande colunata confere ao Grand Trianon a sensação de luz e transparência que é a sua característica definidora, permitindo uma transição perfeita entre o pátio e os jardins. Em 1810, Napoleão mandou adicionar janelas em ambos os lados do Peristilo, tornando mais confortável caminhar dos seus apartamentos até aos apartamentos da Imperatriz, na outra ala.
MENÇÃO HONROSA: Esta sala merece ser citada separadamente…hehehe! Ela era a antecâmara dos aposentos de Luís XIV, utilizada para acolher as ceias do rei. Os painéis de madeira desta sala são os mais antigos do palácio e acima das portas dá pra ver as venezianas que ocultam os assentos dos músicos que tocariam durante a refeição. Napoleão a transformou em Salão dos Oficiais, enquanto Louis-Philippe a converteu em sala de bilhar. Sim! Pra jogar uma sinuquinha de leve! As cadeiras, estofadas com tapeçaria de Beauvais, foram encomendadas especificamente para esta sala; a bela mesa circular e a urna de chá datam do período do Segundo Império.
ATENÇÃO: E eu nem arranhei a superfície (nem de longe) de tudo que há pra ver somente aqui no Grand Trianon. De verdade. Esse lugar é incrível!
Conhecendo o Petit Trianon
A construção do Petit Trianon foi concluída em 1768, sob o reinado de Luís XV. Após a morte de Luís XV, Luís XVI presenteou este edifício com sua esposa Maria Antonieta. O palácio apresenta uma forma cúbica extremamente simples, com cobertura plana rodeada por balaustrada. O arquiteto evitou fazer com que o seu desenho parecesse simples “demais”, variando o aspecto de cada uma das fachadas do palácio. Sim, cada “lado” dele é de um estilo, mas são as proporções dessas composições que tornam o Petit Trianon uma obra-prima em termos de harmonia e elegância.
Pra citar alguns destaques de lá:
– Escadaria da Honra: A trabalho de escultura da enorme escadaria no centro do edifício pode ser considerado contido, mas isso é de propósito. O objetivo dela é complementar as linhas perfeitas da construção geral, que são acentuadas pela luz natural que entra em abundância através das janelas.
– Sala de Bilhar: Durante o reinado de Luís XV, esta sala simples com painéis de madeira era onde ficava a sua mesa de bilhar, toda ornamentada, mas Maria Antonieta a transferiu para o primeiro andar em 1784 e a trocou por uma versão mais simples para que seus guardas pudessem usar.
– Sala de Recepção: depois de passar pela sala de jantar principal, você irá acessar a linda sala de recepção. As cores são impressionantes! Atualmente, dois instrumentos foram colocados na sala para exemplificar o que a rainha gostava de tocar: um piano-forte e uma harpa.
– Quarto do Rei: Luís XVI, que vinha passar o dia ou jantar no Trianon com sua esposa, manteve a decoração escolhida pelo seu antepassado Luís XV para este quarto, embora preferisse dormir no Palácio. Até o momento, porém, nenhum dos móveis originais foi identificado.
Conhecendo a Aldeia da Rainha: o refúgio de Maria Antonieta
Aldeia de Maria Antonieta: Com jeito de conto de fadas, a área conhecida como a Aldeia da Rainha (Hameau de La Reine) é uma espécie de fazendinha, onde os edifícios em estilo rural compõem uma espécie de vila à beira-lago, onde Maria Antonieta passava grande parte do tempo. Sério: parece que esse lugar saiu diretamente das páginas de um conto de fadas!
Foi construída entre 1783 e 1786 sob a supervisão de Richard Mique, e é um excelente exemplo do fascínio daquela época pelos encantos da vida rural. Inspirada na arquitetura rústica tradicional da Normandia, esta “vila-modelo” era composta por 10 edifícios, incluindo um moinho de vento e uma leiteria, além de sala de jantar, salão, sala de bilhar e boudoir (uma espécia de spa de beleza para mulheres). Embora fosse reservado principalmente para a educação dos filhos, Maria Antonieta também utilizava o povoado para passeios e recepção de convidados.
Maria Antonieta, que adorava fugir da Corte de Versalhes, gostava muito do Hamlet, um lugar onde podia passear e organizar pequenas reuniões. As experiências agrícolas e hortícolas aqui realizadas também foram uma parte importante da educação das crianças reais.
Durante a Revolução Francesa, o local ficou abandonado. Como os edifícios foram construídos de maneira improvisada, logo se deterioraram até que, em 1810, Napoleão I começou a trabalhar na restauração do Hamlet. O celeiro e a leiteria foram demolidos por estarem muito danificados, enquanto os outros oito edifícios foram restaurados ao seu estado anterior. Depois da restauração, Napoleão I o deu de presente à sua segunda esposa, a jovem Imperatriz Maria Luísa da Áustria, o que foi muito simbólico: Maria Luísa era sobrinha-neta da antiga rainha Maria Antonieta.
Dicas preciosas para visitar o Parque
Ao contrário do Palácio e dos Jardins, o Parque da propriedade de Versalhes é GRATUITO para todos durante todo o ano (com exceção dos palácios do “Estado do Trianon”, claro). É o lugar perfeito para uma caminhada ou um curto passeio de carro. O Parque está aberto todos os dias das 7h00 às 20h30 de abril a outubro e das 8h00 às 18h00 de novembro a março.
O acesso ao Petit Trianon e ao Queen’s Hamlet é feito apenas através do Grand Trianon.
Como se deslocar no Parque
– A pé: saindo do Palácio, você leva míseros 30 minutos caminhando (sem parar) só pra chegar até o Parque. Até a beiradinha dele. Daí sim você começaria a explorar tudo o que ele tem a oferecer.
– Minitrem: você pode aproveitar o minitrem que circula entre o Jardins de Versalhes e as propriedades do Trianon. Saindo do Palácio, ele faz paradas no Grand Trianon, no Petit Trianon e, finalmente, no Grande Canal, antes de retornar ao Palácio. Nos dias de Jardins Musicais, é acessível através de Passaporte ou Bilhete Jardim Musical. Os preços dos bilhetes de ida e volta giram em torno de EUR 8,50 (só uma perna seria EUR 4,60).
ATENÇÃO: Os visitantes podem desembarcar em qualquer parada e embarcar em outro minitrem depois, não precisam ficar somente em um.
– Carrinhos elétricos (tipo de golf): você pode alugar um por algo em torno de EUR 34 por hora, basta apresentar sua PID (Permissão Internacional de Dirigir).
– Vindo de fora do Palácio: se quiser chegar diretamente à propriedade Trianon vindo da cidade de Versalhes, você pode entrar pela Porta da Rainha de carro ou a pé. Há estacionamento disponível em frente ao Grande Trianon e ao Petit Trianon.
Curiosidades sobre o Parque
1- Em 1999, uma tempestade com ventos acima de 200 km/h atingiu o palácio e fez com que 10 mil, das 200 mil árvores do palácio, fossem danificadas, o que representou um singelo prejuízo de 250 milhões de francos para o governo francês (ainda não existia o euro).
2- O riacho de Gally nasce no Parque de Versalhes, na piscina da Ferradura, e se estende por 22 quilômetros.
3- O Grande Canal tem 1.670 metros de extensão e suas margens já foram palco de festas lendárias, como em 1674, quando foi iluminado em toda a sua extensão com milhares de potes colocados atrás de decorações transparentes.
A partir de 1669, Luís XIV navegou aqui com diferentes tipos de barcos, incluindo barcos a remo, e em 1674 a República de Veneza enviou ao rei duas gôndolas e quatro gondoleiros. Os gondoleiros foram alojados em uma série de edifícios no final do Canal, que passou a ser chamada de Pequena Veneza. Durante o verão, o canal hospedava a frota de navios do rei, enquanto no inverno a superfície congelada era usada para patinar e andar de trenó. Os braços transversais do canal davam acesso de barco ao Menagerie (ao sul) ou ao Trianon (ao norte).
4- Durante a Revolução Francesa, o Petit Trianon se transformou num albergue por um tempo, enquanto os jardins escaparam por pouco de serem divididos em lotes. Napoleão restaurou o palácio e os jardins e o presenteou primeiro para sua irmã Paulina e, mais tarde, para a Imperatriz Marie-Louise, sua segunda esposa. Foi em 1867 que a Imperatriz Eugénie, esposa de Napoleão III, converteu o Petit Trianon num museu dedicado à memória de Maria Antonieta.
5- Sabia que o mobiliário original do Trianon foi perdido durante a Revolução Francesa? Com algumas exceções, o palácio agora tem a mesma aparência que teria durante o período do Primeiro Império. Napoleão mandou reformar totalmente o Trianon e, ocasionalmente, passou algum tempo aqui com a Imperatriz Marie-Louise.
E aí? Gostou de saber tudo isso sobre o Parque de Versalhes? Você tinha ideia de que tinha tanta coisa pra fazer além do Palácio e dos Jardins?
Espero que tenha curtido as informações que deixei aqui e nos vemos nos próximos “passeios”!
Au revoir, mon amis!